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May December

Não só as bandas de rock e as séries teens despertam nostalgia. O true crime também evoca uma sensação compatível a esse fenômeno já que muito desses acontecimentos foram acompanhados por meio da mídia como se fossem capítulos de livros ou episódios de uma série.

May December, filme dirigido por Todd Haynes é inspirado na história real de Mary Kay Letourneau uma professora de Washington considerada culpada na década de 1990 por estupro de um de seus alunos na época com 12 anos.

A violência cola-se constantemente a mídia com a desculpa ou a validação de que a informação é uma forte aliada para combater e prever crimes, sendo assim, fazendo com que outros casos semelhantes sejam impedidos. Mais do que qualquer intropatia, há uma necessidade real de sentir-se justo, benevolente, mais digno que o criminoso.

No filme a personagem de Natalie Portman é uma atriz que está produzindo um filme sobre a vida de Gracie (Julianne Moore), que em 1992, foi flagrada fazendo sexo com Joe Yoo (Charles Melton), de 13 anos, colega de escola de seu filho Georgie, na loja de animais onde ambos trabalhavam.

Ao chegar em Savannah, no estado da Georgia, a atriz Elizabeth Berry  (Natalie Portman) se depara com uma família aparentemente comum e com boa relação com seus vizinhos, mas pouco a pouco a medida que vai entrevistando seus personagens e se integrando a rotina familiar descobre um ambiente recheado de agressões sutis e manipulações que sublinha o poder hierárquico que aquela mulher tem sobre todos.

O tom auto-irônico de May December revela outro aspecto dessas tortuosas coberturas midiáticas, que é a de se sentir integrado aquelas vidas, seja por compaixão e respeito a vítima ou seja por uma identificação e até pela eminência de uma redenção ao criminoso.

Na cena em que Elizabeth vai até um evento da escola dos filhos de Gracie e Joe, ao ser entrevistada pelos alunos o assunto sobre cena e nudez nos filmes vem a tona, ela não foge da pergunta e explica que aquilo é apenas encenações com teor técnico. Na prática não é bem assim que ela sucede. Posteriormente ao fazer teste para atores que iriam interpretar Joe, ela diz ao diretor pra procurar candidatos mais atraentes do que aqueles que haviam realizado os testes de vídeos até o momento.

Mais uma vez o texto sarcástico do filme é intensificado ao assumir que é necessário haver uma camada de sensualidade para torná-lo mais atrativo, uma excitação ensaiada diversas para o deleite do público por mais repulsivo que seja a situação retratada.

O real e o inventivo se fundem em uma mídia em que a audiência, o alcance, têm por si só preferência em relação a denuncias, aos problemas sociais e criminais. Há uma alienação que o desvirtua de um direcionamento sério e informativo em prol de satisfazer uma fantasia degenarada do espectador.

O trabalho dos atores nesse filme é uma rica imersão psicológica dos personagens. O corpo fala e fala alto. A personagem de Julianne Moore quando esta sobre a vista de todos aparece com a voz pacata, um cinismo travestido de sorriso no canto da boca ou por conselhos passivo-agressivos, quando está a sós com outros personagens, principalmente Joe sua maior vítima, assume uma personalidade ameaçadora de quem sabe que está no controle, ou fingindo estar fora do controle em grandes choradeiras para assumir o controle do que ainda não tem.

Charles Melton que vive o melhor momento de sua carreira conduz o personagem que apesar de toda introspecção consegue fazer suas emoções transbordar apenas com o gestual. Os movimentos encurvados, infantilizados diante de sua agressora, ou então, em outros momentos quando apresenta-se com os olhos brilhando, a curiosidade no semblante e na fala contente de quem teve boa parte de sua vida roubada e pode experimentar diversas sensações novas perto da casa dos quarenta anos. O ator arrasa.

Já Natalie Portman é aquela velha história aquilo que atrizes de filmes trash fazem a sério, ela faz atuando. Ótima no papel.

Quando começa a gravação do filme que Elizabeth estrela, somos inseridos a uma ambientação totalmente ilusória daquilo que ela presenciou, ela dá vida a uma mulher instigante com uma cobra enrolada no pescoço num jogo de sedução contracenando com um ator que parece ser bem mais velho que o personagem adolescente que interpreta, em meio a aquários em um ambiente de iluminação esverdeada, exótico e medonho.

Muitos ao assistir May December se perguntam se essa pode ser considerada uma produção camp. Um palpite: A produção “fake” do filme certamente será.

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