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Greve dos Roteiristas: um resumo da crise em Hollywood

No dia 2 de maio de 2023, o Sindicato de Roteiristas dos Estados Unidos (Writers Guild of America, WGA) declarou greve em Hollywood. A primeira greve em mais de 15 anos.

O que parecia repentino, no entanto, já estava sendo discutido e anunciado por diversos jornais.

No dia 27 de março, o jornal The New York Times escreveu sobre os rumores de uma greve entre os roteiristas. De acordo com Times, “os roteiristas queriam mais dinheiro, mas as empresas de Hollywood afirmavam que tais demandas ignoravam o atual estado econômico do pais”.

Cerca de 20 dias depois, uma votação foi feita entre os membros da WGA, onde a possibilidade de haver uma greve foi aprovada com 98% dos votos.

No dia 1° de maio, a WGA e a Aliança de produtores de cinema e televisão (Alliance of Motion Picture and Television Producers, AMPTP), representante dos grandes estúdios de Hollywood, começaram a negociar os termos de um contrato que seria válido pelos próximos 3 anos.

Com propostas de aumento no valor de pagamento recebido por roteiristas por shows onde participaram da produção (conhecido como taxas residuais), aumento no número de roteiristas envolvidos em uma produção e melhores condições de pagamento para obras produzidas para plataformas de streaming e controle do uso de Inteligências artificiais na produção e edição de roteiros, a WGA e a AMPTP não chegaram a um acordo. Iniciando assim, a greve dos roteiristas.

Creditos: WGA Contract 2023

O impacto dos streamings na vida dos roteiristas

Com a popularização e criação de diversos serviços de streaming, a forma de consumo dos usuários tem mudado gradativamente. Sentar a frente da televisão para assistir um canal à cabo passou a ser uma atividade antiquada.

Agora os conteúdos estão disponíveis na palma de nossas mãos, para serem assistidos onde e quando quisermos.

Além disso, a forma de produção destas também tem passado por mudanças. 

Enquanto séries produzidas para a televisão possuíam uma grande quantidade de episódios, as séries feitas para plataformas como Netflix e Amazon Prime possuem uma média de 8 à 12 episódios cada.

Com isso, os roteiristas passaram a ter menos tempo de trabalho e, por consequência, pagamentos reduzidos.

Tina Fey, Seth Meyers e Fred Armisen (roteiristas do SNL) em protesto. Créditos: Deadline.

Em entrevista para o Wall Street Journal, Justin Halpern, membro da WGA e showrunner da série “Abbott Elementary“, falou sobre uma nova tendência entre os estúdios conhecidas como “mini rooms“.

De acordo com Halpern, um pequeno grupo de roteiristas é selecionado para trabalhar em conjunto em alguns roteiros e, uma vez que os roteiros ficam prontos, os roteiristas são excluídos da produção. Desta forma, os roteiristas não recebem pagamento pela produção, somente o mínimo legalmente exigido.

Durante a mesma entrevista, a roteirista de “The Handmaid’s Tale“, Yahlin Chang, comenta sobre como, por conta dessas mudanças, muitos roteiristas procuram por trabalhos secundários.

“Entre a primeira e segunda temporada (de uma série), nós temos roteiristas que precisaram trabalhar como motorista uber”, afirma.

Ela acrescenta ainda que, muitas vezes, os roteiristas fecham contrato por 10 ou 12 semanas somente, podendo ser o único trabalho que conseguem por um ano e que simplesmente não conseguem viver desta forma.

Como solução para este problema, a WGA propõe maior compromisso entre estúdio e roteirista.

De acordo com o artigo “Mini rooms are writers’ room. Period”, um piloto criado em mini rooms não possui garantia de que será produzido, sendo assim, os roteiristas precisam ter opções de negociar o valor de seu trabalho de acordo com o tempo em que passará dentro de um mini room. Um contrato mais maleável e benéfico ao trabalhador.

Além da desvalorização da profissão, a AMPTP e a WGA não conseguiram chegar a um acordo sobre o uso de inteligências artificiais na produção de novos shows.

O sindicato dos roteiristas tem como proposta o banimento das IAs na produção e edição de roteiros, assim como seu uso como fonte para novas histórias.

Essa oferta foi recusada pela Aliança de Produtores de Televisão. Oferecendo a possibilidade de “reuniões anuais para discutir os avanços tecnológicos”.

O impacto da greve em Hollywood

Entrando no seu segundo mês, a greve dos roteiristas em Hollywood já teve seus efeitos colaterais no mundo da TV e do cinema.

Programas como “The tonight show with Jimmy Fallon” e “Jimmy Kimmel Live!” foram os primeiros a optarem por exibir reprises em seus horários.

A mesma decisão foi tomada pelos produtores do programa Saturday Night Live, que até a data de hoje (1º de julho), não exibiu nenhum episódio novo.

Séries como Cobra Kai e Stranger Things tiveram sua produção interrompida por conta das greves. No twitter, o showrunner Jon Hurwitz declarou que “canetas abaixadas na sala dos roteiristas de Cobra Kai, sem escritores no set”.

Os irmãos Duffer também se manifestaram:

“Duffers aqui. Escrever (o roteiro) não para quando a produção começa. Ainda que estejamos empolgados para iniciar a produção com nossa equipe e elenco incrível, não será possível durante a greve. Esperamos que um acordo justo seja fechado logo, para que todos nos possamos voltar a trabalhar. Até lá— câmbio, desligo”, escreveram.

Outros shows como Yellowjackets (Paramount+), Abbot Elementary (Star+), The Last of Us (HBO), 9-1-1 (ABC), The Rookie (ABC), Big Mouth (Netflix), também tiveram sua produção afetada por conta da greve dos roteiristas.

Ainda não há uma estimativa do impacto econômico gerado pela greve dos roteiristas. Segundo matéria publicada pela CNN Business, a última greve em 2008 custou 2 bilhões de dólares para a economia.

Enquanto não há previsão para o fim da greve dos roteiristas, o Sindicato de Atores da TV e do Cinema (SAG-Aftra) aprovaram uma autorização de greve com 97,91% dos votos.

Conforme notícia publicada pela Rolling Stones, mais de 300 atores assinaram carta direcionada aos líderes do sindicato onde pedem por um posicionamento mais firme do sindicato durante às negociações, caso contrario, todos que assinaram a carta estão preparados para uma greve.

O sindicato dos atores da TV e do cinema concordou em estender o contrato atual do até o dia 12 de julho enquanto os dois lados continuam as negociações.

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