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O Conto

Vez ou outra o Tiktok é tomado por um “surto coletivo” onde todos estão assistindo e falando da mesma coisa. Muitas dessas vezes, o tema principal é voltado para filmes ou séries.

Eu não confio muito nas recomendações de pessoas que durante o ano passado tratava “Megan is missing” como uma obra de arte do terror, enquanto o filme não tinha muito a nos oferecer.

No entanto, alimentando a minha própria e escancarada hipocrisia, na última semana eu decidi dar a chance para duas recomendações que surgiram na minha for you.

Ambas as obras abordam o mesmo assunto, um tema que por si só já é pesado e precisa de delicadeza e do olhar certo para ser retratado.

Enquanto assistia o primeiro filme, tomei a decisão de não mencionar o nome, tão pouco fazer qualquer tipo de “publicidade”, pois, além de ter sido uma experiência bem desconfortável, acredito que há uma forma correta de retratar temas como abuso sexual e pedofilia. E, com certeza, uma cena de quase 5 minutos de uma garota menor de idade sendo abusada múltiplas vezes explicitamente.

Portanto, decidi focar somente no segundo filme, “O conto”, lançado em 2018.

Com direção de Jennifer Fox, o filme é baseado em sua própria história. A diretora, aqui interpretada pela atriz Laura Dern, caminha por uma jornada de descobrimento elida com o ressurgimento de lembranças após sua mãe encontrar um conto onde ela contava sobre seu primeiro namoro.

O que era apenas uma história inocente para Jennifer, logo passa a ganhar uma camada mais profunda, ao passo em que a personagem percebe que na realidade ela estava sendo manipulada por dois adultos quando tinha apenas 13 anos.

Conforme a personagem principal começa a investigar seu passado, embarcamos com ela em um misto de memórias confusas e assistimos o mundo através de seus olhos. Aqui vemos o mundo da perspectiva de uma criança negligenciada pelos pais, sendo acolhida por uma mulher que ela considerava linda e deslumbrante.

Aos poucos, vemos como o casal construía esse mundo onde ela era confiável, madura, adulta demais para sua idade.

Dois adultos com o dobro, talvez o triplo, de sua idade, passam a ser seus confidentes, por cartas ela desabafa sobre como odeia sua família, eles trocam poemas e mais detalhes da vida pessoal de cada um.

Na carência de amor dos pais, vemos a pequena Jenny cada vez mais apegada a Sra. G e seu namorado Bill. Pequenos atos como Sra. G empurrando a ela a responsabilidade de decidir se iriam ou não contar a seus pais que ela visitou Bill em sua casa, podemos perceber como eles a manipulam e a inserem em uma narrativa onde ela pode tomar suas próprias decisões.

Infelizmente, ao passar da metade do filme, “O conto” comete o mesmo erro de muitos filmes sobre esse tema.

Para mim, como telespectadora, eu não consigo ver necessidade em cenas com um tópico tão sensível tendo cenas mais explicitas. Ainda que aqui as coisas não sejam mostradas com tamanha fidelidade e violência, ainda é um incômodo que pode ser evitado.

Entendo que os diretores queiram causar choque nos telespectadores, mas acredito que a história por si só, já seja chocante o suficiente.

Alguns diálogos entre Jennifer e sua mãe, interpretada pela atriz Ellen Burstyn também causam um certo desconforto. A mãe que, ao mesmo tempo, se culpa, também questiona a filha se ela gostava do que estava acontecendo com ela.

O entendimento de Jennifer é lento, ela não gosta quando alguém a chama de vítima ou diz abertamente que Bill abusou dela, ela entra na defensiva e fala que eles, na verdade, tinham um “relacionamento”.

À medida que as memórias vão se juntando, detalhes que passam despercebidos são adicionados depois. Dessa forma, nossa jornada acontece em conjunto com a de Jenny.

Dolorosamente, vamos caminhando para um fim inimaginável. Jenny quer enfrentar seu maior inimigo, ela quer olhar ele nos olhos, encerrar esse capitulo tanto quanto nós, sentir que a justiça foi feita de alguma forma.

No entanto, nem sempre a justiça chega para todos.

Conclusão

Jennifer Fox conta sua história para nós, através de cartas, um conto, memórias. Ela expõe um evento que mudou sua vida e afetou completamente a sua caminhada.

Nós, no lugar de espectadores, passamos o filme torcendo pela justiça, querendo que algo seja feito contra alguém que abusou não só de uma, mas de múltiplas meninas menores de idade.

O sabor amargo nos vem a boca quando lembramos que nem toda história tem um final feliz. Tão agridoce quanto a realidade, Bill não sofreu as consequências de seus atos, pelo contrário, viveu sua vida sendo aclamado e premiado.

O treinador acusado por Fox morreu em 2021, aos 88 anos. Dois anos após sua morte, uma investigação foi aberta para verificar casos de abuso envolvendo seu nome. Até a data da publicação, não há informação sobre outras vítimas.

Por hora, talvez eu evite as recomendações do Tiktok, mas como eu disse lá em cima, as vezes a hipocrisia vence.

No Brasil, o filme “O conto” pode ser acessado na plataforma de streaming do HBO Max.

Veja trailer:

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