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Fake news e sensacionalismo | Os perigos de um true crime “mal-feito”

No dia 21 de julho, a plataforma de streaming HBO Max adicionava em seu catálogo a sua primeira produção brasileira. Um documentário sobre o assassinato da Atriz Daniella Perez. 

Com apenas uma semana, a série entrou para o ranking de séries mais assistidas na plataforma, mostrando assim, a popularidade das obras que retratam crimes reais.

Agora, quase um ano desde sua primeira produção brasileira, no dia 9 de julho de 2023, o documentário “Massacre na Escola – A Tragédia das Meninas de Realengo” está sendo comentando em diversas redes sociais. Desta vez, não por conta da tragédia que relata, mas sim, por conta de uma mentira contada que pode afetar a vida de outras pessoas.

O documentário

Ao iniciarmos o penúltimo episódio, um aviso é mostrado na tela para informar aos telespectadores que o responsável pelo massacre feito na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro Realengo (Rio de Janeiro) não será mostrado ao longo do episódio para evitar que isso inspire outros massacres.

O que parece como uma medida cuidadosa e um trabalho feito de forma profissional e ética, logo deixa passa a ser somente mais um detalhe engolido pela inexatidão de fatos mostrados minutos mais tarde.

Em uma fala sobre internet e como “lobos solitários” não é o melhor termo para utilizar quando nos referimos ao responsável por esses ataques, cenas de jogos do jogo Counter Strike são usadas para exemplificar falas sobre violência.

Por volta 15 minutos deste episódio,  o Ricardo Chagas fala que o jogos de first person shooter (FPS) foi criado pelo exército norte-americano como forma de melhorar a mira e o desempenho dos soldados. Ele afirma também que o assassino de Realengo treinou dentro deste jogo.

Na cena seguinte, ele exibe a tela de seu computador com um vídeo intitulado “O chat +18 do free fire”, lê a descrição e diz que ali é possível ver como essa galera se comporta.

Neste trecho da entrevista, Chagas insinua que o autor deste vídeo é uma das pessoas que participa destes chats mal intencionado e está indicando outros.

O vídeo, na verdade, crítica o conteúdo que as pessoas enviam neste chat global e expõe que esses chats acabam criando um local apropriado para pessoas com más intenções. Como por exemplo, homens procurando por sexo virtual com meninas.

Até aqui, podemos considerar apenas um acidente, ou quem sabe o vídeo tenha sido usado somente como exemplo. 

Entregando, é na sequência seguinte que o problema maior desde episódio vem à tona. Ao falar sobre aliciadores de crianças, o consultor cita um YouTuber conhecido como Core e afirma que “este é o maior canal de conteúdo infantil do Brasil que não é infantil”. 

Desta vez, ele exibe cenas do vídeo “A história completa de five nights at Freddy”, franquia de terror lançada em 2014.

De acordo com o consultor, este jogo teria sido “baseado em uma massacre que ocorreu em uma lanchonete norte-americana”. Esta informação, no entanto, já foi desmentida por Scott Cawthon, criador da franquia.

Apesar de não chamar nenhum dos criadores mencionados no vídeo de aliciadores, as falas de Chagas colocam estes YouTubers em uma situação muito delicada. Afinal, ninguém quer ter seu conteúdo ligado a este tipo de acusação.

Em vídeo, Henrique Marangon Core, reforça que seu canal não é para crianças e compartilhou que essa situação tem tirado seu sono, além de trazer medo para sua família, uma vez que não há uma forma de prever como as pessoas irão reagir a isso.

Mas de quem é a culpa?

Não é incomum encontrarmos na internet podcasts, vídeos e textos sobre casos criminais que ocorreram ao redor do mundo. 

Talvez a curiosidade humana colabore para a multiplicação desses materiais, talvez a internet facilite a distribuição dos mesmos.

Porém, é fato que, mesmo antes das mídias onlines, canais como Investigação Discovery já possuíam audiência tratando de casos criminais. A internet apenas ampliou o alcance.

O papel de cuidar da forma que tais informações serão passadas, no entanto, fica para o criador de conteúdo. Informações precisam ser verificadas múltiplas vezes e serem passadas de forma que protejam tanto vítima, quanto telespectador.

Acusar erroneamente uma pessoa pode trazer consequências fatais em alguns casos. Um exemplo disto é o linchamento coletivo de Fabiane Maria de Jesus, em 2014. 

Por ter seu nome vinculado a uma notícia falsa que vinculava ao sequestro de crianças para magia negra, Fabiane foi amarrada e agredida até a morte por moradores de Guarujá, São Paulo.

Outro ponto importante a ser levantado nesta situação, é o papel dos criadores de conteúdo e dos pais no controle do que é consumido por crianças na internet.

Lembro de caminhar por uma das principais avenidas da minha cidade em 2022 e ver pelúcias do personagem Huggy Wuggy penduradas aos montes no canteiro. Este personagem parece ter se popularizado entre crianças menores de oito anos, mesmo não sendo feito para elas.

Em uma situação onde um YouTuber posta vídeos jogando um jogo de terror em seu canal que não é recomendado para crianças, a função de controlar o acesso fica para os pais ou para a plataforma?

Até onde podemos apontar culpados, sem prejudicar o direito de cada um produzir o seu trabalho?

Infelizmente, eu não tenho uma resposta para nenhuma das perguntas levantadas neste texto. E acredito, que nem mesmo os envolvidos possuam. De acordo com matéria publicada no portal F5, a Warner Bros Discovery está ciente do acontecido, mas não irá comentar sobre.

Do outro lado, durante uma live em seu Instagram, o consultor Ricardo Chagas chamou Core e seus inscritos de “analfabetos digitais” por não saberem interpretar o que ele disse no documentário e chamou o Core de Insignificante.

Acho válido ressaltar que não considero o documentário mal-feito, apenas sinto que houve uma grande tendência em incriminar o vídeo-game e a internet como a fonte de todo mal, além de apontar pessoas e seus canais no youtube como porta para predadores sem ao menos pesquisarem a fundo os dados apresentados.

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